Menu


Social

Contos (não tão) de Fadas 001 - Branca de Neve


Como havíamos dito, estamos começando mais uma série aqui na coluna Manjabooki, analisando os contos de fadas e suas origens, algumas vezes bem estranha aos nossos olhos. E não pude pensar em uma história mais adequada para começar do que o clássico Branca de Neve e os Sete Anões.

Poucas histórias hoje em dia são tão populares na cultura mundial do que Branca de Neve. A história, inicialmente criada e contada na tradição alemã anterior ao século 18, foi compilada pelos Irmãos Grimm entre os anos de 1812 e 1822 no livro de fábulas Contos de Fadas para Crianças e Adultos.
Embora eu tenha abordado este aspecto no primeiro artigo da série, que você confere aqui, os Contos de Fadas, as Fábulas e demais estórias criadas na antiguidade nem sempre tinham como público alvo as crianças do modo como pensamos nelas hoje. Precisamos muitas vezes entender o contexto em que as histórias eram criadas e como estas histórias se relacionavam com a cultura e a sociedade da época.
Destaco este ponto porque observei alguns sites enquanto pesquisava sobre o tema e vi muitos blogueiros dizendo que estavam horrorizados com algumas origens e que isso meio que impedia estas histórias de serem contadas hoje.
Não concordo com esta linha de racioncínio.
Se formos colocar no mesmo bolo, jamais poderemos ler a bíblia para uma criança, uma vez que nela estão contidas histórias sangrentas com traição, inveja, homicídios e várias outras coisas que se assemelhavam e se inseriam na cultura da época. Coisas como o fato de mulheres não serem contabilizadas na sociedade, por exemplo. Isso seria um absurdo considerando a cultura atual, mas na época era aceitável.
Da mesma forma, os contos dos Irmãos Grimm também eram aceitos na sua época, assim como as Fábulas de Esopo, a Íliada de Homero e tantas outras criações que foram escritas num determinado tempo, sobre uma determinada época.
E por que eu fiz todo este texto?
Porque o conto original da Branca de Neve possui características culturais e que podem parecer estranhas aos nossos dias. É claro que as diferenças entre a versão dos Grimm e a versão clássica da Disney são grandes e acredito que foram bem feitas. Lembrando que a história produzida pela Disney foi adaptada e, portanto, se enquadrou melhor na nossa cultura.

Ok! Agora que eu já escrevi uma redação do ENEM para explicar isso, vamos ao conto original e suas diferenças entre as mais variadas versões.
A versão que eu li, retirada do livro de contos dos Irmãos Grimm que está disponível no site do Domínio Público, a Branca de Neve é chamada de Snowdrop. Na verdade, Snowdrop seria algo como Gota de Neve, mas isso tem um fundamento se olharmos para a história original.
“Foi no meio do inverno, quando grandes flocos de neve estavam caindo, que a rainha de um país milhares de milhas distante sentou trabalhando em sua janela. A moldura da janela era feita de ébano negro e fino, e enquanto ela trabalhava e olhava para a neve que caia, espetou o dedo e três gotas de sangue caíram sobre a neve. Então ela olhou pensativa e disse: ‘Tomara que minha filha pequena seja tão branca como a neve, vermelha como o sangue e negra como esta janela de ébano!’. E assim a menina realmente cresceu. Sua pele era branca como a neve, as bochechas tão rosadas como o sangue e seu cabelo era tão negro como o ébano. E ela foi chamada de Snowdrop.”
Pelo que sabemos, a primeira versão do conto relatava que a mãe de Branca de Neve ficou com inveja da própria filha no decorrer da história, mas o conto foi republicado pelo Irmãos Grimm mais tarde, alterando esta parte da história, o que já nos revela algo da sociedade daquela época.
Na versão que eu tenho, a rainha fica doente logo após o nascimento de Branca e morre, e o rei se apaixona por uma outra mulher, que possuia um espelho mágico que falava a somente a verdade.
‘Tell me, glass, tell me true!
Of all the ladies in the land,
Who is fairest, tell me, who?’
Com estas palavras a rainha consultava seu espelho, porque não suportava a ideia de que existisse alguém mais bonita do que ela. No conto, porém, como todos sabem, Branca de neve logo é citada pelo espelho como sendo a mais bonita do reino. O interessante é ver que no conto este fato ocorre quando Branca de Neve tinha apenas sete anos de idade, o que para os padrões de hoje poderia ser considerado totalmente impróprio. Tanto é que no conto da Disney Branca foi colocada com 14 anos e na adaptação Once Upon a Time, embora a raiva da Rainha má tenha surgido ainda com Branca de Neve sendo criança, a perseguição só começa quando a mesma ja era adulta. Novamente aqui temos que lembrar que na sociedade da época não era tão incomum meninas se casarem ainda bem novas, portanto o retrato de uma jovem com sete anos tendo sua beleza comparada com a de uma rainha não deve ter soado estranho.
O conto segue com a parte em que um dos servos é chamado para levar Branca ao bosque. Lá, ele deveria matá-la, longe das vistas do seu pai e do resto do povo, porém o servo se compadece, deixa a menina ir embora. No conto dos Grimm não é mencionado a história do coração trocado pelo caçador, uma vez que a rainha má não pede nenhum tipo de comprovação.
Branca de Neve, por sua vez, caminha sozinha pela floresta e nenhum dos animais ali lhe fazia mal. A história da Disney que mostra ela tendo uma certa afinidade com os animais pode ter sido inspirada por este detalhe do conto original, embora não fique claro que ela tinha esta habilidade.
Logo ela encontra uma cabana na floresta e se refugia. Ali ela encontra comida deixada pelos moradores. Por ser uma menina gentil e de bom coração, limpa toda a casa e acaba adormecendo. Logo chegam os donos e eles se revelam como os sete anões.
Aqui a história é totalmente diferente da versão da Disney, uma vez que nenhum dos sete revela seu nome, nenhum deles fica espirrando e todos falam alguma coisa, dando falta de algo e ou percebendo que alguém havia mexido em suas coisas. Logo eles encontram Branca dormindo e eles concordam em abrgá-la em sua casa, uma vez que ela oferece cuidar da casa enquanto eles estivessem nas minas procurando ouro.
Ela é alertada para não falar com estranhos, pois os anões acreditavam que a rainha má logo descobriria que ela estava viva. Isso acontece e então vem a parte das tentativas de matá-la.
A rainha, no original, tenta três vezes: Na primeira, disfarçada de viajante, oferece um laço de fita. Branca aceita e a rainha a ajuda a amarrar, porém ela amarra tão forte em volta da cintura da menina, que a mesma cai sem ar e desmaia. Os anões chegam e salvam ela a tempo. Na segunda vez a rainha se disfarça novamente e entrega a Branca uma escova de cabelo envenenada. Branca novamente aceita, embora relute um pouco, e quando escova o cabelo o veneno faz com que ela desmaie.
Na terceira vem a famosa parte da maçã envenenada. Para enganar Branca, a rainha se disfarça de uma velha senhora, leva a maçã e para provar que não havia nada de errado, come um parte da fruta. Porém, só uma parte dela estava envenenada e quando Branca come a outra parte, acaba comendo a parte envenenada.
O conto relata que os anões chegam e encontram Branca caída e desta vez não conseguem fazer com que ela volte a si. Julgando que Branca de Neve estava morta, eles constroem um caixão de vidro, porque eles não queriam que a beleza dela fosse perdida, uma vez que, embora parecesse morta, suas feições continuavam rosadas e ela continuava com sua beleza.
No conto diz que muito tempo se passou e ela continuava como se estivesse dormindo. Um dia um príncipe aparece e se apaixona pela beleza de Branca. Ele tenta comprar o caixão dos anões, que inicialmente se recusam, mas depois cedem ao príncipe. Ele então planeja levar o caixão para o reino. No trajeto o caixão tomba e um pedaço da maçã, que havia ficado na boca (nada de beijo de amor verdadeiro) da menina cai e ela acorda. O príncipe a pede em casamento e eles ficam juntos.
Então temos uma grande diferença entre os próprios contos dos Irmãos Grimm. Na primeira versão diz que a rainha é convidada para o casamento, porém ela acaba ficando presa numa espécie de botas de ferro ardentes. Ela então morre pela dor. Nesta versão, Branca de Neve e o Príncipe assistem a cena sem esboçar ressentimento.
Na versão final dos Grimm diz que a rainha fica com muita raiva ao descobrir que Branca ainda estava viva e cai morta no chão. Simples assim.
Acho a versão inicial bem cruel, mas pesquisando vi que o conto inicialmente da tradição oral tinha o objetivo de marcar tanto crianças quanto adultos com a idéia de que atitudes más serão pagas com a punição e que a morte é uma punição real. Na versão final é possível que a sociedade já tivesse a noção atual de que a morte deve ser tratada com cuidado, ainda mais com crianças.
Enfim, fiz aqui apenas um resumo da história original, mas vocês podem perceber que o conto tem muitas diferenças com a história da Disney. Na versão mais recente, as modificações feitas, como os nomes e características dos anões, o fato de existir um Príncipe Encantado e outras coisas são reflexo da sociedade em que a adaptação foi concedida.
E o que podemos perceber é que tanto nas versões originais como no clássico da Disney, o conto possui as características de passar ensinamentos através das fábulas com lições morais e éticas sobre como devemos proceder nas situações das mais diversas possíveis. Estes ensinamentos são a base das fábulas em todas as épocas: Ensinar através de alegorias.
E juntamente com estes ensinamentos, vem a imaginação, a fantasia, a magia. Juntando tudo isto temos a inspiração que os contos proporcionam. Não somente com crianças, mas também para crianças, e porque não crianças de todas as idades como nós. Que possamos manter estes tesouros dos contos. Acredito que, cada vez mais, eles serão necessários.
Boas leituras! Com muita imaginação, fantasia e magia para todos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts Recentes